Adaptive Modulation and Coding (AMC) em Sistemas de Comunicações

13/09/2025

Introdução

Adaptive Modulation and Coding (AMC), ou Modulação e Codificação Adaptativa, é uma técnica de adaptação de enlace amplamente utilizada em comunicações sem fio modernas. Com o AMC, o sistema ajusta dinamicamente o esquema de modulação e a codificação de canal de acordo com as condições instantâneas do enlace de rádio, buscando maximizar a taxa de dados sem comprometer a confiabilidade da transmissão. Este artigo aprofunda os conceitos de modulação, apresenta técnicas de modulação digital (como QPSK e QAM), compara abordagens de modulação fixa versus adaptativa, discute as vantagens e desafios do AMC, e examina sua aplicação em padrões como WiMAX e LTE, incluindo o uso de técnicas associadas como o HARQ (Hybrid Automatic Repeat Request) e outras estratégias de adaptação de enlace. 

Modulação

Em telecomunicações, modulação é o processo de converter uma mensagem em um sinal apropriado para transmissão física. Ou seja, características de uma onda portadora tipicamente uma senoide de frequência fixa são modificadas para inserir nela a informação do sinal de mensagem (digital ou analógico) a ser enviado. A portadora possui amplitude e frequência constantes, e o sinal de informação é acrescentado por meio da variação de algum parâmetro da portadora, como amplitude, frequência ou fase. Assim, distinguem-se dois grandes tipos de modulação:


  • Modulação analógica: quando o sinal de mensagem é analógico (por exemplo, áudio de voz) e modula continuamente a portadora. Exemplos clássicos são AM (Amplitude Modulation) e FM (Frequency Modulation), onde amplitude ou frequência da onda portadora variam de forma contínua conforme o sinal de informação.

  • Modulação digital: quando o sinal a transmitir é uma sequência digital (bits). Neste caso, a portadora é alterada em "degraus" discretos para representar símbolos digitais (combinações de bits). Técnicas digitais incluem ASK (modulação por deslocamento de amplitude), FSK (por deslocamento de frequência) e PSK (por deslocamento de fase), entre outras.

Exemplo ilustrativo de modulação: diagrama simplificado mostrando um sinal base (mensagem) modulando uma onda portadora senoidal, resultando em um sinal modulado pronto para transmissão. Aqui a informação (por exemplo, um sinal de voz ou dados) é incorporada à portadora variando-se sua característica amplitude, frequência ou fase  conforme a mensagem a ser enviada (neste caso, variando a amplitude da portadora). 

A modulação digital, em particular, permite transmitir mais de 1 bit por símbolo, escolhendo-se formas de onda distintas (em amplitude, fase ou frequência) para representar combinacões de bits. Métodos de chaveamento binário básico, como BPSK (Binary Phase Shift Keying), transmitem 1 bit por símbolo (duas fases possíveis). Modulações de ordem superior combinam múltiplos níveis e fases para transmitir mais bits por símbolo, aumentando a eficiência espectral – porém, exigindo maior relação sinal-ruído (SNR) para serem fiáveis. A seguir, discutimos duas técnicas de modulação digital muito usadas: QPSK e QAM.

Técnicas de Modulação: QPSK e QAM

Duas modulações digitais importantes são QPSK (Quadrature Phase Shift Keying) e QAM (Quadrature Amplitude Modulation). Ambas são amplamente utilizadas em sistemas sem fio como Wi-Fi (IEEE 802.11), WiMAX (IEEE 802.16) e redes celulares 3G/4G, devido à sua eficiência espectral e capacidade de acomodar diferentes condições de canal.

QPSK (Quadrature PSK) é uma forma de modulação por deslocamento de fase em que quatro diferentes fases da portadora são usadas para representar símbolos. Como resultado, cada símbolo QPSK carrega 2 bits (já que 4 fases = 2² combinações de bits). Por exemplo, as fases de 0°, 90°, 180° e 270° podem corresponder às bitpads "00", "01", "11" e "10", respectivamente. Na prática, podem-se transmitir o dobro de informação em comparação ao PSK binário usando a mesma largura de banda. A Figura 1 ilustra o princípio do QPSK mostrando formas de onda em diferentes fases.

Figura 1: Representação de QPSK. Exemplo de ondas portadoras defasadas em 0° e em 180° (superior e inferior) correspondendo a símbolos diferentes por exemplo., "00" para fase 0° e "11" para 180°. No QPSK, além dessas, utilizam-se também 90° e 270° ("01" e "10"), duplicando a quantidade de bits por símbolo em relação ao BPSK (que usa apenas duas fases)

Enquanto o QPSK varia apenas a fase para codificar bits, a modulação QAM (Quadrature Amplitude Modulation) combina variações de fase e amplitude da portadora. Em QAM, dois sinais em quadratura (defasados de 90°) modulam amplitudes diferentes simultaneamente, produzindo uma constelação bidimensional de pontos representando símbolos únicos. Por exemplo, no 16-QAM, cada símbolo é representado por um ponto em um diagrama com 4 níveis de amplitude e 4 fases (totalizando 16 combinações possíveis). Isso permite carregar 4 bits por símbolo (já que 2^4=16), quadruplicando a taxa de bits em comparação ao QPSK, porém exigindo um canal de alta qualidade (SNR maior) para distinguir corretamente os 16 níveis.


Figura 2: Constelação 16-QAM. Diagrama de constelação para modulação 16-QAM, com 16 pontos correspondendo a combinações únicas de fase e amplitude da portadora. Cada ponto (símbolo) representa um padrão de 4 bits. Por exemplo, o ponto destacado (1,1) indica um símbolo com fase de 90° e amplitude normalizada de 1. Modulações QAM de ordem mais alta (32, 64, 128, 256-QAM, etc.) permitem transmitir ainda mais bits por símbolo, porém demandam proporcionalmente melhores condições de sinal para evitar erros.


Uma vantagem evidente do uso de ordens de modulação mais altas (como 16-QAM, 64-QAM, etc.) é o aumento da taxa de dados transmitida dentro de uma determinada banda de frequências – isto é, maior eficiência espectral. Entretanto, há um custo: sistemas com modulação de ordem superior tornam-se menos robustos a ruído e interferências. Em cenários de canal ruidoso ou com baixa SNR, modulações altas apresentam taxas de erro elevadas. Por isso, muitos sistemas sem fio empregam a modulação adaptativa, ajustando dinamicamente a ordem de modulação conforme a qualidade do canal momentânea.

Modulação Adaptativa vs. Modulação Fixa

Em esquemas de modulação fixa, o transmissor utiliza sempre o mesmo nível de modulação (por exemplo, sempre QPSK ou sempre 16-QAM), independentemente das condições do canal de rádio. Essa simplicidade tem a vantagem de facilidade de implementação; porém, sofre em cenários variáveis se a modulação for de ordem alta, o desempenho degrada rapidamente quando o sinal enfraquece ou há interferência; se for de ordem baixa para garantir robustez, acaba desperdiçando oportunidade de transmitir dados mais rapidamente sob boas condições.

A modulação adaptativa, por sua vez, busca o melhor de dois mundos. O sistema mede constantemente as condições do canal, tipicamente via informações de estado do canal (Channel State Information, CSI) fornecidas pelo receptor ao transmissor, e escolhe o esquema de modulação (e codificação) mais apropriado para aquele instante. Em situação de canal favorável (alta SNR, baixa interferência), utilizam-se modulações de ordem superior (mais bits por símbolo, aumentando throughput). Quando o canal piora (SNR baixa, desvanecimento), o transmissor comuta para uma modulação de ordem inferior, mais robusta, reduzindo erros e retransmissões. Assim, o sistema mantém um equilíbrio: aproveita taxas altas em boas condições e garante confiabilidade em condições adversas.

O objetivo da modulação adaptativa é, portanto, maximizar a vazão de dados sem violar os requisitos de qualidade (taxa de erro). Ela é uma técnica inerentemente reativa e oportunista: o enlace de comunicação se mantém atento às variações de SNR e seleciona a modulação mais eficiente possível a cada momento, dentro dos limites de erro aceitáveis. Isso permite uma comunicação mais robusta e flexível em canais móveis e imprevisíveis, se comparada à modulação fixa. Em contrapartida, a adaptação traz desafios como a necessidade de estimativa precisa e rápida do canal no receptor e de um feedback eficaz para o transmissor, além de maior complexidade de implementação.

Para que a modulação adaptativa funcione corretamente, são necessários mecanismos de sinalização no sistema: o receptor deve informar periodicamente ao transmissor a qualidade do sinal recebido (por exemplo, via medição de SNR ou taxa de erro) para que este possa decidir aumentar ou reduzir a ordem de modulação. Qualquer atraso ou erro nessa informação pode levar a seleção incorreta do esquema, afetando o desempenho. Além disso, a modulação adaptativa geralmente vem acompanhada de ajuste de codificação de canal e potência de transmissão, compondo um conjunto de técnicas de adaptação de enlace que veremos adiante.

Curvas de probabilidade de erro em função da RSR expressa em dB para as modulações 4,16, 64 e 256-QAM.
Curvas de probabilidade de erro em função da RSR expressa em dB para as modulações 4,16, 64 e 256-QAM.

Vantagens do AMC

O uso de Adaptive Modulation and Coding traz vários benefícios para sistemas de comunicação sem fio:


  • Melhor uso do espectro: Ao adequar a modulação/codificação às condições, o sistema pode operar na taxa mais alta possível para cada instante e usuário, aumentando significativamente a eficiência espectral média da rede. Em boas condições, modulações altas entregam throughput elevado; em más condições, modulações robustas garantem conectividade, ainda que a taxa momentaneamente reduza.

  • Robustez e confiabilidade: Comparado a uma modulação fixa de ordem alta, o AMC reduz as perdas de pacote e retransmissões em situações de canal desfavorável, pois automaticamente troca para um esquema mais confiável. Isso mantém a qualidade do link dentro dos parâmetros exigidos (por exemplo, taxa de erro de bloco máxima), melhorando a experiência do usuário e a estabilidade da conexão.

  • Adaptação a usuários heterogêneos: Em redes móveis, diferentes usuários enfrentam condições de sinal distintas (devido à distância da antena, obstáculos, etc.). Com AMC, cada usuário pode operar em seu ponto ótimo, ao invés de a rede adotar uma modulação única conservadora para todos. Usuários próximos à estação base podem usufruir de altas taxas, enquanto os distantes mantêm a conexão com modulação robusta.

  • Aproveitamento de variações rápidas: Em canais que sofrem desvanecimento rápido (fading), o AMC pode acompanhar essas variações se o feedback for suficientemente ágil. Isso permite explorar seletividade do canal, transmitindo mais bits nos picos de SNR e menos nos vales, técnica essa conhecida como "água sobre pedras" (waterfilling) em contexto amplo de adaptação.

Em resumo, o AMC tende a aumentar a capacidade total do sistema e o throughput médio por usuário, ao mesmo tempo em que minimiza períodos de baixa qualidade que, em esquemas fixos, levariam a perda de enlace ou longos reenvios.


Desafios do AMC

Por outro lado, implementar AMC traz desafios técnicos e práticos notáveis:

  • Estimativa de canal e sinalização: O transmissor depende de informações atualizadas do receptor sobre a qualidade do canal (CSI). Erros na estimativa ou atrasos no feedback podem levar à escolha de um MCS (Modulation and Coding Scheme) inadequado – por exemplo, modulando alto demais em um instante de deep fade – causando erros em cascata. Sistemas AMC precisam de algoritmos robustos para estimar SNR instantânea e protocolos eficientes para feedback (como relatórios CQI em LTE).

  • Complexidade de hardware/software: Diferentes modulações e códigos demandam implementações flexíveis. O hardware do modem deve ser capaz de modular e demodular múltiplos esquemas e alternar entre eles rapidamente. Isso pode aumentar a complexidade do ASIC/DSP e o consumo de energia do dispositivo (o que é crítico em terminais móveis).

  • Estabilidade e oscilações: Em cenários com variação rápida, o sistema pode entrar em oscilações de modulação (mudando MCS muito frequentemente). É necessário projetar histerese e margens de segurança no algoritmo de adaptação para evitar "ping-pong" entre esquemas, o que poderia causar instabilidade na vazão ou latências variáveis.

  • Interação com outras camadas: O AMC afeta e é afetado por protocolos de nível mais alto. Por exemplo, mudanças na taxa física influenciam o agendamento de pacotes na MAC e podem alterar a latência percebida. Além disso, a presença de ARQ/HARQ (ver próxima seção) complementa o AMC, mas também deve ser coordenada para evitar redundância ou ineficiência (por exemplo, usar HARQ para compensar erros quando talvez uma modulação mais robusta poderia evitá-los proativamente).

Apesar dos desafios, a maioria dos padrões modernos incorpora AMC devido aos ganhos substanciais em capacidade e eficiência. Para mitigar os obstáculos, combina-se AMC com outras técnicas (codificação adaptativa, controle de potência, HARQ, etc.) formando um sistema de adaptação de enlace completo.

Hybrid ARQ (HARQ) – Repetição Automática com Combinação

Uma técnica fundamental que costuma acompanhar o AMC em sistemas como WiMAX, LTE e outros é o HARQ – Hybrid Automatic Repeat Request. O HARQ é um esquema híbrido de correção de erros que combina retransmissão automática (ARQ) com codificação de correção de erros (FEC).

Em um sistema ARQ puro (como nas camadas superiores de protocolos de Internet), o receptor verifica cada quadro recebido através de um código de detecção de erros (por exemplo, CRC). Se detectar erro, solicita ao transmissor que repita o envio daquele quadro. Já em um sistema FEC puro, o transmissor adiciona bits redundantes suficientes para que o receptor consiga corrigir certos erros sem precisar de retransmissão.

No HARQ, utiliza-se uma codificação FEC de alta taxa (isto é, sem overhead excessivo) combinada com retransmissões seletivas caso o FEC não consiga corrigir todos os erros. Existem variantes, mas em geral funciona assim: o transmissor envia o pacote com bits redundantes de FEC; o receptor tenta decodificar. Se conseguir corrigir eventuais erros, ótimo. Se ainda detectar erros irreparáveis, em vez de descartar totalmente, ele armazena aquela recepção parcial e solicita uma retransmissão. O transmissor então envia pacotes adicionais – que podem ser o mesmo pacote novamente (HARQ tipo Chase) ou bits de paridade adicionais diferentes (HARQ incremental, tipo IR). O receptor combina as múltiplas cópias recebidas (soma de energia ou união de informações) para tentar decodificar corretamente.

O HARQ é chamado "híbrido" justamente por integrar redundância contínua (FEC) e repetição discreta (ARQ). Essa técnica melhora muito a confiabilidade sem sacrificar demais a eficiência: em boas condições, poucas ou nenhuma retransmissão será necessária; em más condições, as retransmissões atuam como um reforço gradual do sinal recebido. Na prática, o HARQ reduz o número de níveis de MCS necessários e a sensibilidade a erros de estimativa do AMC, pois fornece um "seguro" contra escolhas de modulação talvez otimistas demais. Por exemplo, se o AMC selecionar 64-QAM achando que o canal suporta, mas algumas rajadas de erro ocorrerem, o HARQ poderá corrigir ou pedir retransmissão, evitando perda de pacote completa.

Nos padrões atuais (como LTE), cada bloco de transporte utiliza HARQ conjuntamente com AMC – se um bloco não é decodado, o receptor envia um ACK/NACK e o retransmissor reenviará com combinação incremental. Isso proporciona ganho de processamento no receptor (ganho de combinação de diversidade) e eleva a confiabilidade sem diminuir drasticamente a vazão em boas condições.

Em resumo, o HARQ trabalha de mãos dadas com o AMC para atingir desempenho ideal: enquanto o AMC tenta enviar o máximo de bits possível de primeira, o HARQ se encarrega de garantir entrega confiável, retransmitindo quando necessário. Essa dupla tornou-se padrão em tecnologias como WiMAX e LTE.

AMC no WiMAX

O WiMAX (Worldwide Interoperability for Microwave Access) é uma tecnologia de banda larga sem fio, baseada no padrão IEEE 802.16, projetada para cobrir áreas metropolitanas (MAN) com alta taxa de dados. Diferentemente do Wi-Fi (cobertura de dezenas de metros), uma única estação base WiMAX pode cobrir até ~30 milhas (~50 km) em enlace LOS (visada direta) ou cerca de 5–10 milhas em NLOS, atendendo muitos usuários com desempenho de dezenas de Mbps. Essa grande cobertura e eficiência tornam o WiMAX adequado para prover acesso banda larga em última milha, especialmente em regiões de baixa infraestrutura, com menos torres necessárias que redes celulares tradicionais.

Uma das chaves para atingir alto alcance e throughput no WiMAX é justamente o uso de AMC associado a técnicas de antenas. O padrão 802.16 suporta diversos esquemas de modulação e codificação, desde BPSK, QPSK até 16-QAM e 64-QAM, combinados a códigos corretores de erro de diferentes taxas. O algoritmo de adaptação de taxa no WiMAX seleciona o MCS (Modulation and Coding Scheme) adequado conforme a qualidade do canal de cada assinante. Em condições de sinal forte, usa-se 64-QAM com código de alta taxa (menor redundância) para maximizar a vazão; se a condição piora, pode regredir para 16-QAM ou QPSK com códigos mais redundantes, garantindo a robustez da conexão. Esse processo de link adaptation é dinâmico e ocorre continuamente conforme o usuário se move ou o canal varia.

Além do AMC, o WiMAX emprega HARQ para melhorar o desempenho em camada de enlace. Estudos indicam que a combinação de AMC + HARQ traz vantagens duplas: o AMC por si só já poupa recursos (ajustando a modulação para não desperdiçar SNR), e o HARQ complementa reduzindo as retransmissões necessárias em níveis superiores e fornecendo ganhos adicionais de codificação quando o canal surpreende negativamente. Em outras palavras, no WiMAX optou-se por usar ambas as técnicas em conjunto para otimizar tanto a capacidade do sistema quanto a latência das aplicações. Sem AMC, o sistema teria que dimensionar tudo para a pior condição (desperdiçando capacidade na maior parte do tempo); sem HARQ, o AMC teria que ser ultraconservador para evitar erros (deixando de usar modulações mais agressivas mesmo quando possíveis). Juntos, AMC e HARQ permitem que o WiMAX opere próximo ao limite do canal de forma confiável.

Por exemplo, Iwan Adhicandra em "Using AMC and HARQ to Optimize System Capacity and Application Delays in WiMAX Networks" analisou que, ao ativar HARQ no WiMAX além do AMC convencional, conseguiu-se reduzir o uso de recursos de rádio (menos retransmissões de alto nível) e simultaneamente diminuir a latência média das aplicações. Ou seja, o sistema atingiu tanto maior capacidade quanto menor atraso, cumprindo dois objetivos normalmente conflitantes.

É válido notar que o WiMAX foi pioneiro em muitas dessas técnicas que depois foram adotadas e refinadas no LTE. Embora o WiMAX não tenha alcançado a mesma difusão comercial global, ele estabeleceu as bases para o uso intenso de link adaptation nas redes de banda larga sem fio.

Técnicas de Adaptação de Enlace

De forma mais ampla, a modulação adaptativa é parte de um conjunto de técnicas de adaptação de enlace que visam otimizar a comunicação diante de condições variantes. Podemos citar cinco categorias principais frequentemente discutidas:

  1. Técnicas de Taxa Variável: engloba o AMC discutido – ajusta-se a taxa de transmissão de dados (bits/símbolo, esquemas de codificação) conforme o canal. Aqui entram mudança de modulação e alteração da taxa de código FEC para controlar a quantidade de informação por símbolo transmitido.

  2. Técnicas de Potência Variável: o transmissor adapta a potência de transmissão de acordo com o canal e requisitos. Ex.: controle de potência rápido do 3G/UMTS, que mantinha a SIR alvo constante reduzindo potência em bons canais e aumentando em maus. Em sistemas OFDMA, pode-se alocar mais potência para subportadoras em más condições.

  3. Técnicas de Probabilidade de Erro Variável: o sistema pode tolerar alterar temporariamente a probabilidade de erro visando ganho de throughput. Isso é menos comum de forma explícita, mas por exemplo ajustar a meta de BER conforme a aplicação (vídeo pode tolerar alguns erros, controle não).

  4. Técnicas de Codificação Variável: ajuste dos esquemas de codificação de canal (tipo de código e redundância). Por exemplo, alternar entre um código convolucional, turbo ou LDPC, e variar sua taxa (1/2, 2/3, 3/4, etc.) dependendo da necessidade de robustez.

  5. Técnicas Híbridas: combinação de duas ou mais das acima. Por exemplo, o próprio AMC geralmente envolve mudar modulação e codificação conjuntamente (daí o "C" de Coding no nome). HARQ combina FEC e ARQ. MIMO adaptativo combina adaptação de potência e codificação espacial conforme as condições.

Em sistemas modernos (LTE, 5G), praticamente todas essas técnicas são utilizadas em conjunto. A Adaptação de Enlace tornou-se um campo vasto, que inclui desde esquemas de agendamento dinâmico de recursos de tempo/frequência (para transmitir nos melhores subcanais) até seleção adaptativa de número de camadas MIMO. O AMC é uma parcela fundamental desse arsenal, responsável por adaptar os parâmetros físicos de modulação/codificação automaticamente ao canal, enquanto outras técnicas complementam atuando em potência, espaço (antenna selection, beamforming) e retransmissão.